segunda-feira, 11 de março de 2024

Quando o PSD sucede ao PS

Relembrar os tempos dos governos PSD, já que ganhou estas eleições, e, em particular, os grandes feitos do cavaquismo, na crónica escrita logo após a vitória do PSD nas eleições legislativas de 5 de Junho de 2011 e que atirou o PS para líder da oposição, numa situação algo semelhante à actual.

Silva, “O Repovoador”

O presidente da República, mais conhecido pelo senhor Silva, quer ficar na História de Portugal como um segundo D. Dinis, um repovoador do Reino que revitalizou a agricultura, desenvolveu a floresta e, já agora, contribuiu para o fomento da nossa marinha e deu a conhecer novos mundos ao mundo. O senhor Silva, na sua conversa da treta, no entanto mais conhecida por discurso oficial, indigna-se com a situação dos nossos campos, mas esquece-se, ou quer fazer esquecer, que ele, quando primeiro-ministro foi o principal responsável pela destruição da nossa agricultura e pelo abandono do interior por muitos milhares de agricultores. A agricultura do senhor Silva foi a agricultora de sucesso de uma Odefruta do seu amigalhaço Thierry Roussel, que fugiu para a Nigéria depois de enfiar nos bolsos 6 milhões de euros, ferrando o calote à CGD e ao estado português e deixando um projecto fraudulento e desajustado com graves consequências ambientais na costa alentejana, mais precisamente no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.

Foi no tempo do senhor Silva que milhares de milhões de euros desapareceram para que os agricultores deixassem de produzir, que vinhas e oliveiras foram arrancadas, vacarias desmanteladas, para no seu lugar se cultivassem girassóis que ficavam no campo a apodrecer, e se comprassem jipes de luxo e apartamentos de férias por pseudo-lavradores e que organizações do género CAP enriquecessem, passando os seus dirigentes a viver em palácio sumptuoso. Esta, sim, é que foi a "estratégia clara de revalorização do interior do país" e "oportunidades de sucesso" para os jovens agricultores. O senhor Silva diz que, hoje e em Portugal, 220 mil agricultores recebem subsídios da União Europeia para não produzir, mas muitos mais foram lançados na ruína para que os países ricos da Europa, com a Alemanha à cabeça, continuassem a produzir e escoar os seus excedentes para os países do Sul. A nossa pobreza, nomeadamente na agricultura, foi e é a riqueza dos países do Norte da Europa. E podemos agradecer ao senhor Silva.

Contudo, não foi só a agricultura que sofreu, foram as pescas, foi a indústria em geral, razão pela qual se percebe que uma Associação Nacional das Pequenas e Médias tivesse vindo perguntar, no dia do discurso do senhor Silva, onde foram parar os 60 mil milhões de euros de fundos europeus que entre 2000 e 2006 deviam ter sido investidas no Interior, não contando com os anteriores a este período. "Onde foram aplicados 60 mil milhões de euros, referentes às dotações do QCIII (Quadro Comunitário) 2000/2006 e QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional), uma vez que estas transferências líquidas da UE para o nosso país deviam ter sido investidas, precisamente, no desenvolvimento das Regiões de Convergência, ou Regiões do Interior", questiona a associação.

A obra do senhor Silva e do PSD foi completada nos governos do PS, pela mão do senhor comissionista Sousa, com o encerramento dos serviços de urgência e maternidades, o encerramento de escolas e deslocação das crianças para os mega-agrupamentos nas cidades, o encerramento dos postos dos CTT, etc., não esquecendo a obra notável do senhor Silva que consistiu na desactivação de mais 800 quilómetros de via-férrea e concomitante encerramento de dezenas de estações e perdas de postos de trabalho. Se o senhor Silva irá ficar na história como “O Repovoador”, o senhor Sousa ficará com o cognome do “Exterminador”. Ambos contribuíram fortemente para o despovoamento e miséria do país e, em particular, do Portugal profundo.

14 de Junho 2011, “Os Bárbaros”

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