Costa, arvorando-se em porta voz privilegiado
de Bruxelas e das elites caseiras, defende que os dinheiros do PRR (Programa de
Recuperação e Resiliência) vão alterar o “perfil” da economia portuguesa; ou
seja, mudar-lhe a estrutura e, quiçá, a natureza de molde a torná-la mais
resistente aos ditos “choques externos”, vulgo “concorrência” estrangeira,
iludindo que a economia aberta de que os indígenas se orgulham mais não é que
frágil e rota embarcação a meter água por todos os rombos e por várias razões,
devido à ausência de controlo da moeda, das taxas de juro e das relações
externas, só para citar as mais importantes. Anda-se à deriva e sabe-se, mas
esconde-se.
A transferência da riqueza do trabalho para
o capital não tem deixado de aumentar
O ministro da Economia, talvez por não ter
ainda o estofo de mentiroso típico dos políticos do sistema, não consegue
evitar que a boca lhe fuja para a verdade e daí evacuar que a “recuperação” não
se traduzir ainda no bolso dos portugueses (cidadãos comuns), fazendo lembrar
as palavras memoráveis de Montenegro, quando o seu partido se encontrava no
governo, de "a vida das pessoas não está melhor mas a do País está muito
melhor", foi em Janeiro de 2014, em plena troika, e os portugueses cuja
vida não está melhor lembram-se bem.
Facilmente se infere que as políticas seguidas
quer pelo PSD quer pelo PS, quando no governo, são bem semelhantes e
distinguir-se-ão somente em pormenores de tempo e de intensidade – um será mais
pelo cacete, o outro mais pela cenoura, pelo menos enquanto houver cenouras.
E como se encontra a vida dos portugueses? A
dita “classe média”, a pequena-burguesia dos serviços e do comércio não tem
grandes razões para se encontrar satisfeita e sentir-se feliz. Os dados
recentes dizem-nos que “professores e investigadores perderam entre 22% a 27%
do poder de compra desde 2004, isto é ainda não recuperaram do tempo da troica
e das bacoradas do ora auto-promovido chefe da oposição ao governo.
Os pequenos comerciantes terão levado
igualmente a ripada, e não terá sido apenas na capital do país: “um quarto das
lojas da Baixa de Lisboa não reabriu desde a pandemia”. E os trabalhadores em
geral, o salário médio por trabalhador diminui 4,0% em termos reais só no ano
passado, em 2022, e, a título de curiosidade, inferior em média em 634 euros
por mês do que os trabalhadores espanhóis. Em termos reais, metade de um salário
mensal esfumou-se.
E o desemprego encontra-se a subir nos últimos
19 meses, estando agora nos 6,7%, o que significa uma real descida do real
nominal devido ao aumento de competição entre os trabalhadores – “Portugal foi
o país da OCDE onde desemprego mais subiu entre Julho e Dezembro” (da
imprensa).
A transferência da riqueza flui do trabalho
para o capital de diversas maneiras e não só do valor da mais-valia que não é
paga aquando da venda da força de trabalho do assalariado, os lucros acrescidos
não vêm apenas da diminuição do salário, mas igualmente pelo aumento do preço
das mercadorias, ou seja, pelo aumento, desmesurado e brusco, neste caso, dos
bens consumidos pelos cidadãos, para além de outras vias mais indirectas.
Os bancos estão sempre à cabeça no arrecadar
de mais e cada vez mais lucros, sugam os trabalhadores mas igualmente os
restantes sectores, só grande grupos económicos têm condições para se financiarem
na banca aos juros que estão em vigor: Lagarde já anunciou para Março mais uma
subida 50 pontos o que levará até ao fim do ano a uma taxa de 4%, igual à do
FED e do Banco de Inglaterra.
Madina, gabarola por ofício e por caracter
gabou-se ainda há pouco que uma das razões
seria a estabilidade e solidez da “banca nacional”, ora onde se encontra a tal
banca já que a maior parte dos bancos a operar em território nacional são
estrangeiros, predominantemente espanhóis; nacional, só a Caixa Geral de
Depósitos e pouco mais, e mesmo aquela possui gestão capitalista com os restantes
bancos, só lhe interessa o lucro.
Como curiosidade: lucro do Santander Totta
quase duplica para 568,5 milhões de euros em 2022, mais 270,3 milhões face a
2021; lucro do BPI melhora 19% para 365 milhões de euros. São ambos bancos
espanhóis. De onde veio o dinheiro? A maior parte veio das comissões
extorquidas aos cidadãos que têm a necessidade de recorrer aos seus serviços e
da rentabilidade dos depósitos sobre os quais não pagam juros e pelos quais se
vão financiando. O cidadão vai assim de forma directa pagar a bancarrota
provocada ou pela má gestão ou pela própria crise do capitalismo.
A GALP aumentou os lucros para quase o dobro,
881 milhões de euros, em 2022, o que revela que a carestia de vida dos que
trabalham traduz-se sempre no aumento da riqueza dos capitalistas. A razão pela
qual o governo se recusa terminantemente em fixar o preço dos combustíveis,
considerando este exemplo, ou até intervir directamente na venda, e produção,
dos combustíveis com a renacionalização deste sector estratégico da economia,
prova que a sua agenda não é a agenda do trabalho, mas sim a do grande capital.
Quem ainda pensa na sinceridade socialista é
gente que acredita no Pai Natal – os 23 % da inflação do preço dos alimentos
(cabaz DECO) encontra-se mais próxima da realidade do que os números do INE.
Resultado final em 2022: há 1910 famílias em Portugal que têm entre 10 a 100
milhões de euros e há 4,4milhões de pobres que vivem com menos de 550 euros.
"Não há risco de recessão em Portugal"
Parece uma fatalidade, mas na realidade não é,
o facto de o défice comercial português ser crónico ao longo dos tempos,
atravessando os diversos regimes políticos que vigoraram em Portugal desde,
pelo menos, os últimos trezentos anos. E tem sido e continuará a ser uma
fatalidade pela simples razão de que o país, ao longo destes anos, tem sido uma
colónia ou um protetorado da potência predominante da época, mesmo quando
mantinha as colónias, e mesmo aí mais não passava de um intermediário das
grande empresas europeias, predominantemente inglesas durante todo o século XIX,
arcando com o prejuízo da administração e defesa dos domínios coloniais.
Mas esta função de intermediação é tão antiga
e está tão arreigada nas nossas elites que ainda se mantém, foi com este
espírito e exercendo o papel de catar as migalhas deixadas pelo rapinanço
imperialista que a elite actual, mais os seus capangas políticos, se predispôs a
desempenhar, uma outra vez, quando apostou na então CEE e agora UE.
Foi nesta qualidade de lacaio para toda a obra
que o funcionário das Finanças, Medina, vai tentando desempenhar a função da
melhor forma, exorcizando os fantasmas da bancarrota com a declaração constante
e repetida de que “não há risco de recessão em Portugal”. Faz de caixa de
ressonância do BCE (Banco Central Europeu) e da sua sucursal Banco de Portugal.
Centeno, no Fórum de Davos, foi claro: a
“economia nacional” encontra-se melhor porque as empresas estão agora “menos
endividadas do que em 2019”, isto é, antes da pandemia. O quer dizer que esta
terá sido o pretexto para recapitalizar (como denunciámos na altura) as
empresas falidas ou prestes a falir e, principalmente, reforçar ainda mais os
grupos económicos estrangeiros que aqui vão beneficiando de todos os apoios
fiscais e da nossa mão-de-obra baratinha.
Continuar a deitar dinheiro em uma economia falida,
arrancado ao suor e sangue dos trabalhadores, é trabalho inútil no que concerne
à economia considerada no seu todo, servirá apenas para fazer engordar o
património e as contas bancárias dos capitalistas nacionais, como já aconteceu
com dinheiros europeus anteriores – a economia nacional está irremediavelmente
duplamente condenada… porque capitalista e subsidiária.
E vamos
aos números e aos factos. O INE diz que "as exportações e as importações
aumentaram 23,1% e 31,2%, respetivamente no ano de 2022, tendo o défice da
balança comercial aumentado 11,256 mil milhões de euros para 30,783 mil milhões
de euros", e também diz que o rácio do défice comercial terminou em 13% do
PIB, o maior desde 2008, e, salienta a imprensa mainstream, “Portugal volta a
ser tão dependente de compras ao estrangeiro como no tempo de Sócrates”.
Uma economia que, usando uma moeda cara (o
marco alemão sob o nome de euro) acaba sempre por comprar caro e vender
barato, sendo inevitável o endividamento do país; e um país com uma dívida
permanente, independentemente de ser pública ou privada, é um país inviável e
sem futuro. A recessão será sempre inevitável e quando acontecer será maior que
nos restantes países da União Europeia.
Meias verdade e mentiras inteiras
Contudo, o governo PS & Costa tenta tapar
o sol com a peneira, querendo fazer crer ao povoléu (tratando-nos como ignorantes)
que a dívida pública “diminuiu” em 2022; claro que diminuiu a sua relação com o
PIB visto que este aumentou 6,7%, valor de que o governo também se vangloriou.
Com estas meias-verdades esconde duas realidades e diz duas mentiras: uma, a
dívida pública não desceu mas aumentou em valor absoluto, foram mais 3,3 mil
milhões de euros; outra, o aumento do PIB foi pífio, comparado com 2019, porque
a quebra foi de tal maneira grande em 2020 e 2022, tendo sido uma das
recuperações mais baixas da União Europeia.
E a prova de que a dívida pública está sempre
a aumentar em termos absolutos é o facto de o estado continuar a pedir mais
dinheiro ao estrangeiro, tendo acabado de realizar um leilão de dívida a 3 e a
11 meses para angariar até 1000 milhões de euros e a juros muito mais elevados,
e já lançou outro leilão para 750 milhões de euros, e a procura pelos
certificados de aforro atingiu novo record. O governo vai-se valendo de
alguma iliteracia por parte do povo, que pensará que “vender dívida” é coisa
boa, esquecendo-se por vezes que é ele que paga sempre a conta.
O dinheiro da corrupção, exemplo, os 444
milhões com novos aviões Airbus da TAP, ser-lhe-á fatalmente endossado, assim
como todo o dinheiro ali enterrado para a transportadora aérea ser entregue a
um grande grupo económico europeu, muito provavelmente será a alemã Lufthansa,
à semelhança de outras empresas importantes, reforçando a posição de Portugal
de economia subalterna e subsidiária, qualquer dia ficará apenas como nacional
o ar e pouco mais.
O caso da TAP, onde o governo já estorricou perto
de 4 mil milhões de euros, faz-nos lembrar outros casos, os dos bancos, onde
foram injectados muitos milhões, BPN, Banif, BES, que deverão totalizar mais de
20 mil milhões de euros, para depois serem entregues ao grande capital
financeiro estrangeiro e conforme plano traçado por Bruxelas, com a agravante de que a TAP é uma empresa pública. Em todos estes
casos, os governos de turno em Lisboa têm cumprido bem a tarefa, a dos gestores
dos negócios do capital. O problema está em ser sempre o povo a pagar, com
salários mais baixos, impostos mais altos, piores serviços públicos, piores
transportes, piores cuidados de saúde, pior educação, pior habitação, sempre tudo
pior ou então ausência total. As guerras do capital traduzem-se sempre em mais fome e miséria para o povo que trabalha.
Em Portugal está tudo bem, estamos em guerra com a Rússia!
O PS sempre se armou em partido da guerra: Costa reúne-se com o agente americano na Ucrânia e declara guerra à Rússia e Marcelo prepara-se para conceder a Ordem da Liberdade a um chefe de estado que proibiu todos os partidos da oposição e mandou queimar todos os livros de autores russos. Ambos se colocam em bicos de pés na bajulação ao partido da guerra existente em Bruxelas e em Washington, são dois estrénuos guerreiros apesar de nenhum ter feito o serviço militar, já deram armas e material de guerra aos nacionalistas integralistas ucranianos, descendentes dos bandeiristas que se colocaram ao serviço de Hitler, e anunciaram continuar com a tarefa. A ministra da dita “Defesa” (será mais da Guerra) alinha pela mesma cartilha, aplicar as directivas aprovadas na Cimeira de Madrid da NATO, ou seja, reforçar a presença militar no Leste da Europa (a boca fugiu-lhe para a verdade) e aumentar a despesa no rearmamento. Esta gente arma-se em guerreira porque conta com o sangue dos outros, não com o deles ou dos seus familiares.
A sanha belicista desta gente não se dirige para a solução dos problemas dos trabalhadores, e dos professores em particular já que são estes que no memento se encontram na primeira linha de luta, bem pelo contrário, a raiva é para ser lançada contra eles – é a luta de classes. Esta uma verdade elementar que a pequena-burguesia, assustada que venha aí uma revolução mas igualmente temerosa pela proletarização em que se encontra, tenta escamotear. Isto acontece porque ainda não surgiu uma direcção revolucionária e proletária que unifique todas as lutas e de todos os sectores das massas, e esta é a condição sine qua non para que a actual luta dos professores não venha a morrer mais uma vez na paria do fracasso. Tenhamos esperança de ela sempre aparecer porque só na luta isso é possível.
A luta dos professores, bem
como todas as outras que irão inevitavelmente surgir, devem merecer e vão
merecer o apoio da grande maioria do povo português. E pelas condições actuais
na Europa, as lutas irão rapidamente espalhar-se por todo o continente, porque só a revolução proletária poderá esconjurar a guerra inter-imperialista. A luta será internacionalista!
Imagem de destaque: Guerra na Europa - Alemanha e Portugal são os dois únicos países que até ao momento já prepararam tanques (17) com destino à guerra da Ucrânia.
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