Karl Marx
Os três anos de rigoroso domínio da república
parlamentar haviam libertado uma parte dos camponeses franceses da ilusão
napoleônica, revolucionando-os ainda que apenas superficialmente; mas os
burgueses reprimiam-nos violentamente, cada vez que se punham em movimento. Sob
a república parlamentar a consciência moderna e a consciência tradicional do
camponês francês disputaram a supremacia. Esse progresso tomou a forma de uma
luta incessante entre os mestres-escola e os padres. A burguesia derrotou os
mestres-escola. Pela primeira vez os camponeses fizeram esforços para se
comportarem independentemente em face da atuação do governo. Isto se
manifestava no conflito contínuo entre os maires e os prefeitos. A burguesia
depôs os maires. Finalmente, durante o período da república parlamentar, os
camponeses de diversas localidades levantaram-se contra sua própria obra, o
exército. A burguesia castigou-os com estados de sítio e expedições punitivas.
E essa mesma burguesia clama agora contra a estupidez das massas, contra a
ville multitude(30) que a traiu em favor de Bonaparte. Ela própria forçou a
consolidação das simpatias do campesinato pelo Império e manteve as condições
que originam essa religião camponesa. A burguesia, é bem verdade, deve
forçosamente temer a estupidez das massas enquanto essas se mantém
conservadoras, assim como a sua clarividência, tão logo se tornam
revolucionárias.
Nos levantes ocorridos depois do golpe de
Estado parte dos camponeses franceses protestou de armas na mão contra o
resultado de seu próprio voto a 10 de dezembro de 1848. A experiência adquirida
desde aquela data abrira-lhes os olhos. Mas tinham entregado a alma às forças
infernais da história; a história obrigou-os a manter a palavra empenhada, e a
maioria estava ainda tão cheia de preconceitos que justamente nos Departamentos
mais vermelhos a população camponesa votou abertamente em favor de Bonaparte.
Em sua opinião a Assembleia Nacional impedira a marcha de Bonaparte. Este
limitara-se agora a romper as cadeias que as cidades haviam imposto à vontade
do campo. Em algumas localidades os camponeses chegaram a abrigar a ideia
ridícula de uma Convenção lado a lado com Napoleão.
Depois que a primeira Revolução transformara
os camponeses de semi-servidão em proprietários livres, Napoleão confirmou e
regulamentou as condições sob as quais podiam dedicar-se à exploração do solo
francês que acabava de lhes ser distribuído e saciar sua ânsia juvenil de
propriedade. Mas o que, agora, provoca a ruína do camponês francês é
precisamente a própria pequena propriedade, a divisão da terra, a forma de
propriedade que Napoleão consolidou na França; justamente as condições
materiais que transformaram o camponês feudal em camponês proprietário, e
Napoleão em imperador. Duas gerações bastaram para produzir o resultado
inevitável: o arruinamento progressivo da agricultura, o endividamento
progressivo do agricultor. A forma"napoleônica" de propriedade, que
no princípio do século XIX constituía a condição para libertação e
enriquecimento do camponês francês, desenvolveu-se no decorrer desse século na
lei da sua escravização e pauperização. E esta, precisamente, é a primeira das
idées napoléoniennes que o segundo Bonaparte tem que defender. Se ele ainda
compartilha com os camponeses a ilusão de que a causa da ruína deve ser
procurada, não na pequena propriedade em si, mas fora dela, na influência de
circunstâncias secundárias, suas experiências arrebentarão como bolhas de sabão
quando entrarem em contato com as relações de produção.
O desenvolvimento econômico da pequena
propriedade modificou radicalmente a relação dos camponeses para com as demais
classes da sociedade. Sob Napoleão a fragmentação da terra rio interior
suplementava a livre concorrência e o começo da grande indústria nas cidades. O
campesinato era o protesto ubíquo contra a aristocracia dos senhores de terra
que acabara de ser derrubada. As raízes que a pequena propriedade estabeleceu
no solo francês privaram o feudalismo de qualquer meio de subsistência. Seus
marcos formavam as fortificações naturais da burguesia contra qualquer ataque
de surpresa por parte de seus antigos senhores. Mas no decorrer do século XIX,
os senhores feudais foram substituídos pelos usurários urbanos; o imposto
feudal referente à terra foi substituído pela hipoteca; a aristocrática
propriedade territorial foi substituída pelo capital burguês. A pequena
propriedade do camponês é agora o único pretexto que permite ao capitalista
retirar lucros, juros e renda do solo, ao mesmo tempo que deixa ao próprio
lavrador o cuidado de obter o próprio salário como puder. A dívida hipotecária
que pesa sobre o solo francês impõe ao campesinato o pagamento de uma soma de
juros equivalentes aos juros anuais do total da dívida nacional britânica. A
pequena propriedade, nessa escravização ao capital a que seu desenvolvimento inevitavelmente
conduz, transformou a massa da nação francesa em trogloditas. Dezesseis milhões
de camponeses (inclusive mulheres e crianças) vivem em antros, a maioria dos
quais só dispõe de uma abertura, outros apenas duas e os mais favorecidos
apenas três. E as janelas são para uma casa o que os cinco sentidos são para a
cabeça. A ordem burguesa, que no princípio do século pôs o Estado para montar
guarda sobre a recém-criada pequena propriedade e premiou-a com lauréis,
tornou-se um vampiro que suga seu sangue e sua medula, atirando-o no caldeirão
alquimista do capital. O Code Napoléon já não é mais do que um código de
arrestos, vendas forçadas e leilões obrigatórios. Aos 4 milhões (inclusive
crianças etc.), oficialmente reconhecidos, de mendigos, vagabundos, criminosos
e prostitutas da França devem ser somados 5 milhões que pairam à margem da vida
e que ou têm seu pouso no próprio campo ou, com seus molambos e seus filhos,
constantemente abandonam o campo pelas cidades e as cidades pelo campo. Os
interesses dos camponeses, portanto, já não estão mais, como ao tempo de
Napoleão, em consonância, mas sim em oposição com os interesses da burguesia,
do capital. Por isso os camponeses encontram seu aliado e dirigente natural no
proletariado urbano, cuja tarefa é derrubar o regime burguês. Mas o governo
forte e absoluto - e esta é a segunda idée napoléonienne que o segundo Napoleão
tem que executar - é chamado a defender pela força essa ordem
"material". Essa ordre matériel serve também de mote em todas as
proclamações de Bonaparte contra os camponeses rebeldes.
Além da hipoteca que lhe é imposta pelo
capital, a pequena propriedade está ainda sobrecarregada de impostos. Os
impostos são a fonte de vida da burocracia, do exército, dos padres e da corte,
em suma, de toda a máquina do Poder Executivo. Governo forte e impostos fortes
são coisas idênticas. Por sua própria natureza a pequena propriedade forma uma
base adequada a uma burguesia todo-poderosa e inumerável. Cria um nível
uniforme de relações e de pessoas sobre toda a superfície do país. Dai permitir
também a influência de uma pressão uniforme, exercida de um centro supremo,
sobre todos os pontos dessa massa uniforme. Aniquila as gradações
intermediárias da aristocracia entre a massa do povo e o poder do Estado. Provoca,
portanto, de todos os lados, a ingerência direta desse poder do Estado e a
interposição de seus órgãos imediatos. Finalmente, produz um excesso de
desempregados para os quais não há lugar nem no campo nem nas cidades, e que
tentam, portanto, obter postos governamentais como uma espécie de esmola
respeitável, provocando a criação de postos do governo. Com os novos mercados
que abriu a ponta de baioneta, com a pilhagem do continente, Napoleão devolveu
com juros os impostos compulsórios. Esses impostos serviam de incentivo à
laboriosidade dos camponeses, ao passo que agora despojam seu trabalho de seus
últimos recursos e completam sua incapacidade de resistir ao pauperismo. E uma
vasta burguesia, bem engalanada e bem alimentada, é a idée napoleoniénne mais
do agrado do segundo Bonaparte. Como poderia ser de outra maneira, visto que ao
lado das classes existentes na sociedade ele é forçado a criar uma casta
artificial, para a qual a manutenção do seu regime se transforma em uma questão
de subsistência? Uma das suas primeiras operações financeiras, portanto, foi
elevar os salários dos funcionários ao nível anterior e criar novas sinecuras.
Outra idée napoléonienne é o domínio dos
padres como instrumento de governo. Mas em sua harmonia com a sociedade, em sua
dependência das forças naturais e em sua submissão à autoridade que a protegia
de cima, a pequena propriedade recém-criada era naturalmente religiosa, a
pequena propriedade arruinada pelas dívidas em franca divergência com a
sociedade e com a autoridade e impelida para além de suas limitações torna-se
naturalmente irreligiosa. O céu era um acréscimo bastante agradável à estreita
faixa de terra recém-adquirida, tanto mais quanto dele dependiam as condições
meteorológicas; mas se converte em insulto assim que se tenta impingi-lo como
substituto da pequena propriedade. O padre aparece então como mero mastim
ungido da polícia terrena - outra idée napoléonienne. Da próxima vez a
expedição contra Roma terá lugar na própria França, mas em sentido oposto ao do
Sr. de Montalembert.
Finalmente, o ponto culminante das idées
napoléoniennes é a preponderância do exército. O exército era o point
d'honneur (31) dos pequenos camponeses, eram eles próprios transformados em
heróis, defendendo suas novas propriedades contra o mundo exterior,
glorificando sua nacionalidade recém-adquirida, pilhando e revolucionando o
mundo. A farda era seu manto de poder; a guerra a sua poesia; a pequena
propriedade, ampliada e a alargada na imaginação, a sua pátria, e o patriotismo
a forma ideal do sentimento da propriedade. Mas os inimigos contra os quais o
camponês francês tem agora que defender sua propriedade não são os cossacos;
são os huissers (32) e os agentes do fisco. A pequena propriedade não mais está
abrangida no que se chama pátria, e sim no registro das hipotecas. O próprio
exército já não é a flor da juventude camponesa; é a flor do pântano do lúmpen
proletariado camponês. Consiste em grande parte em remplaçants,(33) em
substitutos, do mesmo modo por que o próprio Bonaparte é apenas um remplaçant,
um substituto de Napoleão. Seus feitos heróicos consistem agora em caçar
camponeses em massa, com antílopes, em servir de gendarme, e se as contradições
internas de seu sistema expulsarem o chefe da Sociedade de 10 de Dezembro para
fora das fronteiras da França, seu exército, depois de alguns atos de
banditismo, colherá não louros, mas açoites.
Como vemos: todas as idées napoléoniennes são
ideias da pequena propriedade, incipiente, no frescor da juventude, para a
pequena propriedade na fase da velhice constituem um absurdo. Não passam de
alucinações de sua agonia, palavras que são transformadas em frases, espíritos
transformados em fantasmas. Mas a paródia do império era necessária para
libertar a massa da nação francesa do peso da tradição e para desenvolver em
forma pura a oposição entre o poder do Estado e a sociedade Com a mina
progressiva da pequena propriedade, desmorona-se a estrutura do Estado erigida
sobre ela A centralização do Estado, de que necessita a sociedade moderna, só
surge das minas da maquina governamental burocrático-militar forjada em
oposição ao feudalismo.
A situação dos camponeses franceses nos
fornece a resposta ao enigma das eleições de 20 e 21 de dezembro, que levaram o
segundo Bonaparte ao topo do Monte Sinai, não para receber leis mas para
ditá-las.
Evidentemente a burguesia não tinha agora
outro jeito senão eleger Bonaparte Quando os puritanos, no Concilio de
Constança, queixavam-se da vida dissoluta a que se entregavam os papas e se
afligiam sobre a necessidade de uma reforma moral, o cardeal Pierre
d'Ailly bradou-lhes com veemência 'Quando só o próprio demônio pode ainda
salvar a Igreja Católica, vos apelais para os anjos De maneira semelhante,
depois do golpe ele Estado, a burguesia francesa gritava: Só o chefe da
Sociedade de 10 de Dezembro pode salvar a sociedade burguesa! Só o roubo pode
salvar a propriedade; o perjúrio, a religião; a bastardia, a família; a desordem,
a ordem!
Como autoridade executiva que se tornou um
poder independente, Bonaparte considera sua missão salvaguardar "a ordem
burguesa". Mas a força dessa ordem burguesa está na classe média. Ele se
afirma, portanto, como representante da classe média, e promulga decretos nesse
sentido. Não obstante, ele só é alguém devido ao fato de ter quebrado o poder
político dessa classe média e de quebrá-lo novamente todos os dias.
Consequentemente, afirma-se como o adversário do poder político e literário da
classe média. Mas ao proteger seu poder material, gera novamente o seu poder
político. A causa deve, portanto, ser mantida viva; o efeito, porém, onde se
manifesta, tem que ser liquidado. Mas isso não pode se dar sem ligeiras
confusões de causa e efeito, pois em sua mútua influência ambos perdem suas
características distintivas. Daí, novos decretos que apagam a linha divisória.
Diante da burguesia Bonaparte se considera ao mesmo tempo representante dos
camponeses e do povo em geral, que deseja tornar as classes mais baixas do povo
felizes dentro da estrutura da sociedade burguesa. Daí novos decretos que
roubam de antemão aos "verdadeiros socialistas" sua arte de governar.
Mas acima de tudo, Bonaparte considera-se o chefe da Sociedade de 10 de
Dezembro, representante do lúmpen proletariado a que pertencem ele próprio, seu
entourage,(34) seu governo e seu exército, e cujo interesse primordial é colher
benefícios e retirar prêmios da loteria da Califórnia do tesouro do Estado. E
sustenta sua posição de chefe da Sociedade de 10 de Dezembro com decretos, sem
decretos e apesar dos decretos.
Essa tarefa contraditória do homem explica as
contradições do seu governo, esse confuso tatear que ora procura conquistar,
ora humilhar, primeiro uma classe depois outra e alinha todas elas
uniformemente contra ele, essa insegurança prática constitui um contraste
altamente cômico com o estilo imperioso e categórico de seus decretos
governamentais, estilo copiado fielmente do tio.
A indústria e o comércio, e, portanto, os
negócios da classe média, deverão prosperar em estilo de estufa sob o governo
forte. São feitas inúmeras concessões ferroviárias. Mas o lúmpen proletariado
bonapartista tem que enriquecer. Os iniciados fazem tripotage (35) na Bolsa com
as concessões ferroviárias. Obriga-se ao Banco a conceder adiantamentos contra
ações ferroviárias. Mas o Banco tem ao mesmo tempo que ser explorado para fins
pessoais, e tem portanto que ser bajulado. Dispensa-se o Banco da obrigação de
publicar relatórios semanais. Acordo leonino do Banco com o governo. É preciso
dar trabalho ao povo. Obras públicas são iniciadas. Mas as obras públicas
aumentam os encargos do povo no que diz respeito a impostos. Reduzem-se,
portanto, as taxas mediante um massacre sobre os rentiers, (36) mediante a
conversão de títulos de 5% em títulos de 4,5%. Mas a classe média tem mais uma
vez que receber um douceur(37) Duplica-se, portanto, o imposto do vinho para o
povo, que o adquire en détail, e reduz-se à metade o imposto do vinho para a
classe média, que a bebe en gros(38) As uniões operárias existentes são
dissolvidas, mas prometem-se milagres de união para o futuro. Os camponeses têm
que ser auxiliados. Bancos hipotecários que facilitam o seu endividamento e
aceleram a concentração da propriedade. Mas esses bancos devem ser utilizados
para tirar dinheiro das propriedades confiscadas à Casa de Orléans. Nenhum
capitalista que concordar com essa condição, que não consta do decreto, e o
Banco hipotecário fica reduzido a um mero decreto etc. etc.
Bonaparte gostaria de aparecer como o
benfeitor patriarcal de todas as classes. Mas não pode dar a uma classe sem
tirar de outra. Assim como no tempo da Fronda dizia-se do duque de Guise que
ele era o homem mais oblígeani4 da França porque convertera todas as suas
propriedades em compromissos de seus partidários para com ele, Bonaparte queria
passar como o homem mais obligeant(39) da França e transformar toda a
propriedade, todo o trabalho da França em obrigação pessoal para com ele.
Gostaria de roubar a França inteira a fim poder entregá-la de presente à
França, ou melhor, a fim de poder comprar novamente a França com dinheiro
francês, pois como chefe da Sociedade de 10 de Dezembro, tem que comprar o que
devia pertencer-lhe. E todas as instituições do Estado, o Senado, o Conselho de
Estado, o Legislativo, a Legião de Honra, as medalhas dos soldados, os
banheiros públicos, os serviços de utilidade pública, as estradas de ferro, o
état major(40) da Guarda Nacional com a exceção das praças, e as propriedades
confiscadas à Casa de Orléans tudo se torna parte da instituição do suborno.
Todo posto do exército ou na máquina do Estado converte-se em meio de suborno.
Mas a característica mais importante desse processo, pelo qual a França é
tomada para que lhe possa ser entregue novamente, são as percentagens que vão
ter aos bolsos do chefe e dos membros da Sociedade de 10 de Dezembro durante a
transação. O epigrama com o qual a condessa L., amante do Sr. de Morny,
caracterizou o confisco das propriedades da Casa de Orléans (Cest le premier
vol(41), de l'aígle)(42) pode ser aplicado a todos os vôos desta águia, que
mais se assemelha a um abutre. Tanto ele como seus adeptos gritam diariamente
uns para os outros, como aquele cartuxo italiano que admoestava o avarento que,
com ostentação, contava os bens que ainda poderiam sustentá-lo por muitos anos:
Tu fai conto sopra i beni, bisogna prima far il conto sopra gli anni.(43)
Temendo se enganarem no cômputo dos anos, contam os minutos. Um bando de
patifes abre caminho para si na corte, nos ministérios, nos altos postos do
governo e do exército, uma malta cujos melhores elementos, é preciso que se
diga, ninguém sabe de onde vieram, uma bohème barulhenta, desmoralizada e
rapace, que se enfia nas túnicas guarnecidas de alamares com a mesma dignidade
grotesca dos altos dignitários de Soulouque. Pode-se fazer uma ideia perfeita
dessa alta camada da Sociedade de 10 de Dezembro quando se reflete
que Véron — Crevel é o seu moralista e Granier de Cassagnac o seu
pensador. Quando Guizot, durante o seu ministério, utilizou-se desse
Granier em um jornaleco dirigido contra a oposição dinástica, costumava
exaltá-lo com esta tirada: C'est le roi des drôles,"é o rei dos
palhaços". Seria injusto recordar a Regência ou Luís XV com
referência à corte de Luís Bonaparte ou a sua camarilha. Pois "a França já
tem passado com frequência por um governo de favoritas; más nunca antes por um
governo de hommes entretenus".
Impelido pelas exigências contraditórias de sua situação e estando ao mesmo tempo, como um prestidigitador, ante a necessidade de manter os olhares do público fixados sobre ele, como substituto de Napoleão, por meio de surpresas constantes, isto é, ante a necessidade de executar diariamente um golpe de Estado em miniatura, Bonaparte lança a confusão em toda a economia burguesa, viola tudo que parecia inviolável à Revolução de 1848, torna alguns tolerantes em face da revolução, outros desejosos de revolução, e produz uma verdadeira anarquia em nome da ordem, ao mesmo tempo que despoja de seu halo toda a máquina do Estado, profana-a e torna-a ao mesmo tempo desprezível e ridícula. O culto do Manto Sagrado de Treves ele o repete em Paris sob a forma do culto o manto imperial de Napoleão. Mas quando o manto imperial cair finalmente sobre os ombros de Luís Bonaparte, a estátua de bronze de Napoleão ruirá do topo da Coluna Vendôme.
K. MARX Escrito entre dezembro de 1851 a março de 1852
Imagem de destaque: Guerra Franco Prussiana, batalha de Sedan, rendição de Napoleão Bonaparte a Guilherme I
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