O Verão vai a meio, as temperaturas sobem
bruscamente, facilmente são ultrapassados os 42º Celsius, o que não deixa de
ser normal atendendo aos registos de épocas passadas de um clima de forte
influência mediterrânica, e, ao contrário do que seria de esperar, os
acontecimentos e as notícias não irão de férias nem serão assim tão simplórias
nem tolas.
Se nos lançarmos ao trabalho, vencendo a
moleza inerente ao tempo que se faz sentir, de passar uma vista de olhos pelos
principais órgãos de imprensa escrita do establishment, vários são os temas que
irão, e já estarão, a inquietar-nos: a guerra da Ucrânia, a subida do preço da
energia, os lucros extraordinários e obscenos dos grandes grupos económicos e
dos bancos para além das empresas directamente ligadas ao sector das energias,
a inflação galopante que não se sabe até onde irá chegar, os incêndios que
serão definitivamente extintos somente quando deixarem de ser negócio, o SNS
debaixo de fogo cada vez mais intenso, com a suspeita de privatização a curto
prazo da área da obstetrícia/ginecologia, numa estratégia que vem de há muito e
sob pressão de Bruxelas, a justiça que, embora não pareça, é branda com os
inspectores do SEF que acusados de tortura, omissão de auxílio e homicídio
apenas levaram 9 anos de prisão ou de Ricardo Salgado, o banqueiro do regime,
que para além de ainda não estar preso viu a caução diminuir de 3 milhões de
euros para metade e a reforma melhorada para 90 mil euros por mês, o partido de
extrema-direita com representação parlamentar questionar a prepotência do
presidente da dita “casa da democracia”, ambos em plena campanha de
auto-promoção, o segundo como candidato a candidato a Belém, o cantor que não
tem voz mas que apanha sempre a onda para também se promover e quando ameaçado
corre para as saias governo a pedir protecção, a Igreja Católica que não
consegue explicar o seu silêncio sobre os casos de pedofilia, a continuação do
estado de alerta para se manter o uso da máscara até ao fim do mês de Agosto
quando o próprio governo convida a realização em Portugal de grandes eventos
desportivos internacionais e, entretanto, continua a comprar vacinas, agora
para a virose dos macacos. Etc., etc.
Perante todos estes acontecimentos, numa
guerra cada vez mais quente e pouco fria, quer lá fora quer cá dentro, os
números não enganam, basta seguir o dinheiro:
Galp, EDP Renováveis, Jerónimo Martins e Sonae
MC somam mil milhões de lucros no primeiro semestre e a dona do Continente com
saldo positivo de 62 milhões; Lucro do BPI aumenta 9% para 201 milhões no
semestre; Lucros semestrais da Cofina crescem 67%, A Cofina registou um aumento
de 5,9% nas receitas, que ascenderam a 37,58 milhões de euros; REN aumenta
lucros em 16% para 45,9 milhões de euro; Receitas da Altice Portugal sobem 14%
para 1.254,2 milhões no primeiro semestre; Rendimentos operacionais do Banco
CTT sobem 27% até Junho; a Altri registou no primeiro semestre deste ano um
resultado líquido de 69,6 milhões de euros, um aumento de 56,9% face ao mesmo
período de 2021; Sonae quase duplica lucros para 118 milhões no primeiro
semestre.
E lá fora: A Shell britânica anunciou lucros
recorde no valor de mais de onze mil milhões de euros líquidos nos três meses
de Abril a Junho; Iberdrola cai 36% mas atinge lucros de 2.075 milhões no
primeiro semestre; Lucros recorde da espanhola Repsol, receita cresceu 92,9%,
para 22 mil milhões de euros; Total Energies quase triplica o lucro somando
70,4 mil milhões de dólares entre Abril e Junho, alta de 69% na comparação
anual. É a concentração acelerada do capital.
Se o dinheiro corre para um lado, de um outro
sairá, numa espécie de sistema de vasos comunicantes: Inflação sobe para 9,1%
em Julho e atinge máximo desde 1992, a taxa de variação homóloga do Índice de
Preços no Consumidor terá aumentado 9,1% em Julho, depois de 8,7% em Julho;
Inflação na Zona Euro sobe para 8,9% em Julho; contudo, PIB contrai 0,2% em
cadeia no 2º trimestre; Taxa de desemprego sobe ligeiramente para 6,1% em
Junho; O Banco de Portugal informou esta quinta-feira que as instituições
bancárias que operam em Portugal «reduziram» mais de 3000 trabalhadores e
fecharam acima de 350 agências nos últimos dois anos; Prestação da casa
agrava-se até 104 euros em Agosto após BCE subir juros, Agosto trará um
novo agravamento da prestação da casa para os contratos que foram revistos; Rendas
aumentaram 30% em Julho face ao ano passado; O Estado registou um excedente de
1.113 milhões de euros no primeiro semestre, em contabilidade pública, o que
traduz uma melhoria de 8.429 milhões de euros face aos primeiros seis meses de
2021. São as famosas cativações a par dos fabulosos lucros dos grandes grupos
económicos. A mesma filosofia.
A recessão económica encontra-se atrás da
porta e será inevitável, no centro do capitalismo mundial o anúncio,
contrariando as palavras do demenciado Biden e dos economistas de serviço, de
os Estados Unidos entram em recessão técnica. Continuando com as paragonas dos
media, a maior economia mundial registou uma quebra de 0,9% no segundo
trimestre depois da contração de 1,6% nos primeiros três meses do ano; assim,
os Estados Unidos encontram-se em recessão técnica.
E a locomotiva europeia não se encontra
melhor, Queda da confiança coloca economia alemã “à beira da recessão”.
Indicador de confiança entre os empresários alemães caiu em Julho para o valor
mais baixo desde Junho de 2020, no auge da pandemia. Receio de contracção na
economia aumenta.
E já o patrão da Meta, e da censura contra o
que não é politicamente correcto, alertou para o início da recessão económica.
De acordo com os balanços do período de Abril a Junho, a empresa registou lucro
líquido de 6,687 milhões de dólares, equivalente a 2,46 dólares por ação, valor
que representa uma queda de 36% em relação aos 10.394 milhões de dólares no
mesmo trimestre de 2021, com ações avaliadas em 3,61 dólares cada.
A recessão dentro da economia capitalista é
endémica, está-lhe na natureza, e é cíclica, só que a burguesia já aprendeu a
tirar dividendos de uma coisa que não consegue modificar ou colocar-lhe fim,
mas que afinal tem sido sempre benéfica para o sistema económico no seu todo,
embora possa ser prejudicial para uma parte. Quando o aumento da produção, que,
teoricamente e no capitalismo, não terá fim, entra em contradição com o
mercado, então, há uma crise de super-produção, como está a verificar-se
actualmente. A solução encontrada tem sido a guerra, além da disputa de
recursos e mercados, serve para destruir o excesso de produtos e de forças
produtivas, incluindo a mão-de-obra excendentária. Com a guerra há sempre a
garantia que o desemprego acaba.
E, quando se reconstruir, recomeça o novo
ciclo de acumulação e concentração de riqueza. Na guerra há sempre um sector da
burguesia que enriquece, nem que seja pelo próprio negócio do armamento,
enquanto outro poderá arruinar-se, é o que está a assistir-se presentemente. A
pandemia da covid-19 serviu, e outras se encontram já na calha, varíola do
macaco, a poliomielite e cólera já estão a ser ensaiadas atendendo aos casos já
noticiados, para impor medidas de controlo social e restrição da própria
actividade económica.
Os estados de emergência sanitários e os seus
confinamentos sociais levaram ao enfraquecimento das pequenas e médias empresas
que agora ainda terão a vida ainda mais dificultada com o aumento brutal do
preço da energia. O exemplo da Vista Alegre, que viu os custos com gás a
dispararem 485%, fechando o 1º semestre do ano com prejuízos, dá bem a imagem
daquilo que as esperam. Muitas têm o destino traçado e não haverá surpresa que,
depois das habituais férias de Agosto, algumas já não abram as portas.
De pouco ou nada valerão os 4,6 mil milhões
destinados às empresas, no quadro do Portugal 2030, grande parte desse dinheiro
irá para as grandes empresas e, nomeadamente, para as empresas estrangeiras que
aqui se encontram a aproveitar-se da mão de obra barata e dos benefícios
fiscais. Como de pouco valeram os milhões gastos nos lay-off ao abrigo do
putativo combate à pandemia ou os 19.963 milhões recebidos de Bruxelas até
Junho deste ano no âmbito do PT 2020. E quanto aos mais de 16 mil milhões de
euros do famigerado PRR, já sabemos a quem calharão e quais os resultados.
O mundo actual está completamente de pernas
para o ar, e vêm-nos dizer que o problema está nas alterações climáticas e na
guerra, ora só acredita quem quer. Se a guerra é a continuação da política por
outros meios (Carl von Clausewitz), então a política é a continuação da
economia a outro nível. E com esta economia, com este regime político, com
estas elites, uma economicamente rentista e subsidiária, outra politicamente
corrupta, degradada e degradante, Portugal é um país sem futuro e em vias de
desaparecimento, acabando por pouco importar se está dentro ou fora da União
Europeia ou do euro. Outro mundo é possível porque necessário, só que o caminho
terá de ser outro diametralmente oposto. A silly season este ano será
particularmente quente e nada simplória.
Imagem de destaque: Praia de Yalta,
Crimeia, 1995 – Martin Parr
https://temposdecolera.blogs.sapo.pt/silly-season-2022-52353
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