A crise económica a nível interna e mundial
vai-se agravando, poderemos dizer, sem grande margem de erro, o capitalismo
agoniza. A seguir à falência de três bancos norte-americanos mais duzentos
estarão em lista de espera na terra do Tio Sam, se fizermos fé na notícia
avançada pela imprensa mainstream. A crise financeira, apenas um dos aspectos
da crise global, irá arrastar toda a União Europeia – causa e efeito da guerra
na Ucrânia.
Como consequência, a política vai-se
crispando, em França, o governo Macron governa por decreto, aprovando a subida
da idade de reforma a arrepio do Parlamento, e, em Portugal, vão surgindo os
candidatos a candidato a Bonaparte. Um almirante de água doce, a pretexto de conter
uma pretensa rebelião da marinhagem, inicia a sua campanha à presidência da
República, rodeado de toda a imprensa doméstica que desde há algum tempo o tem
trazido ao colo, perante a estupefacção de alguma opinião pública e do silêncio
de um governo cada vez mais acossado.
Os assuntos do dia, ultimamente, têm sido a “revolta”
dos marinheiros com a promoção do “almirante sem medo” e o mandado de captura
de Putin pelo TPI (Tribunal Penal Internacional). O primeiro desilustra a democracia
parlamentar burguesa que vigora entre nós com o endeusamento de um oficial da tropa
que traga ordem ao país, acabe com o regabofe das greves, e resolva problemas
que a classe política venal descuida, como seja um pequeno navio da armada
comprado em segunda mão e que já deveria ter sido desmantelado atendendo há
idade. O segundo descredibiliza ainda mais um órgão já irrelevante, a ONU, fazendo lembrar a antiga Sociedade das Nações.
O incidente será pretexto para o governo
passar a partir de agora a investir a sério no armamento, numa política
belicista de agrado de Bruxelas e da Nato, e o “raspanete” dado pelo almirante
perante as câmaras de televisão tem como fim deixar o aviso de que
insubordinações não são de tolerar, não vá o diabo tecê-las e a soldadesca,
juntamente com o povo indignado, possa um dia destes revoltar-se contra os
oficiais, contra os políticos corruptos e ser ela a colocar na ordem toda uma
elite, esta sim, a verdadeira responsável pelo descalabro da nação!
Alguma classe média gosta de fardas, terá muito
provavelmente sonhos eróticos, gosta da ordem e da disciplina, o que, diga-se
de passagem, também não desagrada à elite indígena que nunca viu com bons olhos
este excesso de liberdade e de direitos do reviralho depois do 25 de Abril. E com
a crise económica já instalada desde há quinze anos, crise que se tem mantido
em banho-maria durante este tempo pelos governos do PS & Costa, e ameaçando
com nova tempestade, todos os cuidados serão poucos e um militar viria mesmo a
calhar.
Por sinal, o militar que agora se coloca em
bicos de pés até é alto, fala grosso, mas, ao que parece, a coragem não será a
sua melhor qualidade. Depois de arengar à tropa e ameaçar com penas e degredos os
(in)subordinados revoltosos ter-se-á apercebido, ou alguém lhe terá dito, que
se tinha excedido, o que lhe poderá estragar a imagem pública, veio então retratar-se
negando que tivesse dado algum raspanete aos marinheiros. Aliás, este tipo de
comportamento está na personalidade dos candidatos a Bonaparte, por exemplo, Luís
Bonaparte, era um vadio e um chulo, conseguiu o poder com o ajuda de uma
organização de marginais e lúmpenes, a sociedade 1º de Dezembro, e o preço
foram uns quartilhos de aguardente.
Os comentadores e paineleiros do regime logo reagiram:
uns alertaram para as possíveis revoltas que poderão aí vir por força da crise;
outros indignaram-se com a falta de jeito do tropa que, se quer ser candidato a
algum cargo político, deve primeiro despir a farda; ainda outros acham exagero o
empolamento da insubordinação; em suma, todos se preocupam com a solidez e
esperança de vida do regime que para o ano faz meio século de existência. E,
coisa que não dizem mas percebe-se bem, preocupam-se mais com o tacho e
mordomias pessoais que este regime lhes ofereceu.
A imagem dada pelo navio, com uma das duas
máquinas avariada, a outra a perder óleo, e o casco a meter água, é mais a
imagem do país e do regime político do que propriamente da armada portuguesa. E
a situação terá sido empolada porque, ignomínia das ignomínias!, os marinheiros
recusaram-se a vigiar um navio russo que passava ao largo e em águas
internacionais, mas que, nas palavras do “nosso” almirante de alcaixa, andaria
a vasculhar os cabos submarinos. E grave porque qual seria, no seu limitado e casernático
entendimento, a opinião dos “aliados” (Nato) de Portugal?
Assim se vê que as ideias de militares profissionais
não se diferenciam muito das dos nossos políticos: primeiro está a subserviência
ao estrangeiro (Bruxelas e Nato); depois, no seio do povo português deve prevalecer
a repressão, a arbitrariedade, obedece quem deve e manda quem pode, e
com a crise económica em mais uma outra vaga, desta feita mais tormentosa, os portugueses
devem baixar a cerviz e aceitar as privações derivadas de mais aumentos dos
preços na alimentação, na habitação, nos combustíveis, em tudo o que é
essencial à sobrevivência; ao mesmo tempo, bancos, gasolineiras e hipermercados
acumulam lucros declaradamente pornográficos.
Se é notícia que «A crise financeira vem
asfixiando a classe média: quase metade das famílias portuguesas têm
dificuldade em pagar a casa e a alimentação» ou o «Número de despedimentos
coletivos cresce quase 56% em Janeiro», não deixa de ser grotesco ouvir «A
presidente executiva (CEO) da Sonae, Cláudia Azevedo, avisou hoje que, num
"mercado aberto e mundial" como o alimentar, a fixação de preços
máximos "dá sempre mau resultado" e resultaria em "prateleiras
vazias" nos supermercados». Perante a arrogância e ameaça de fome para o
povo, e se o governo fosse de esquerda, há muito que os preços teriam sido tabelados,
e agora o grupo Sonae seria nacionalizado e a oligarca enviada à justiça.
Ao contrário do que afirmam os (ditos) responsáveis
políticos e financeiros nacionais bem como os de Bruxelas (Eurogrupo), a crise
financeira que se reiniciou nos EUA e que estalou na Europa com o Credit Suisse
irá alastrar-se como fogo em palha seca por todo o continente europeu. Não se
entende que haja gente que negue a possibilidade de contaminação de Portugal, que
é um país periférico, de economia aberta, sem soberania monetária ou económica
em áreas essenciais como a alimentação, com mais de metade da banca nas mãos do
capital espanhol e europeu, como pode ficar imune à calamidade? Costa parece querer
repetir a triste figura de Cavaco Silva antes do BES estoirar.
Se o governo possui maioria absoluta, pode e
deve governar até o fim do mandato e irá fazê-lo; contudo, não é por este facto
que sente acossado e não consegue esconder o nervosismo, é pela possível
revolta social. Para acelerar o nervosismo e eventualmente o fim precoce,
Marcelo, sofrendo de incontinência verbal e de descontrole do impulso, vai “picando”
o governo, agarra agora a aplicação dos dinheiros do PRR como arma de arremesso
e na expectativa de virem a ser a tábua de salvação da economia nacional falida
– em breve irá para o terreno controlar a aplicação do programa. Marcelo
preocupa-se: «quer rapidez na suspensão de padres e na privatização da TAP», a
sua alma de beato e de vendilhão do país ao estrangeiro sente-se atormentada.
Marcelo, como primeiro-ministro frustrado,
defende que «novas formas de luta “têm de ser previstas na lei”» quanto à luta
dos professores que ameaça fugir ao controlo da cordata CGTP. A obrigatoriedade
de as pessoas ficarem em casa em situação de incêndio e o facto de a proposta
do Governo que revoga leis covid estar parada há seis meses são a expressão dos
tiques caceteiros do PS que, na primeira oportunidade, irá carregar
violentamente contra a luta dos professores bem como todas as que teimem em
perturbar a boa ordem burguesa, se falhar, então, virá o sr. almirante no seu
navio a meter água e com a máquina a peidar-se pôr ordem na malta insubordinada.
Convém lembrar quem é que nomeou o almirante
para o cargo de CEMA, eventualmente como recompensa da boa execução da campanha
de vacinação – cujos efeitos nefastos se
encontram sob investigação das autoridades judiciais alemãs e com o governo
alemão a disponibilizar-se em indemnizar as vítimas das injecções –, e que já o
deveria ter demitido mal ocorreu o incidente do navio avariado. Costa manter-se-á
no poder enquanto conseguir manter o povo na ordem, garantir a paz social, e
fazer passar a política dimanada de Bruxelas, porque sabe que Marcelo não tem
coragem de usar outra vez a “bomba atómica” da dissolução da Assembleia da República,
e aqui os partidos da oposição têm mais medo de outras eleições antecipadas do
que o diabo da cruz.
Neste país cheio de políticos e de tropas
cheios de coragem e ardor combativo, prontos para a guerra, ficamos admirados
que o “comandante supremo” das forças armadas tenha livrado à tropa graças a
cunha do papá, porque possivelmente teria medo da disciplina militar e de ir
combater para o África, à semelhança do que aconteceu com quase todos os homens
da sua idade, e ficamos de boca aberta quando o ministro dos negócios
estrangeiros, que terá conseguido o cargo também por cunha do paizinho, venha
como mata-mouros tenebroso ameaçar que caso o presidente russo venha a Portugal
(fazer o quê?) será imediatamente detido – o homem um dias destes ganhará algum
prémio pelas asneiras que diz, o anúncio extemporâneo e indevido do presidente
Lula vir discursar na Assembleia da República no 25 de Abril ficará para a história do anedotário da II
República. Terá tanto de altura como de incompetência e de burrice, é o mínimo
que se poderá dizer.
O bonapartismo será sempre o regime político
de ditadura do grande capital sem grandes arrebiques democráticos, um regime
abertamente autoritário, seja o protagonista civil ou militar, defenderá acima
de tudo os interesses do grande capital financeiro mais do que os interesses da
burguesia nacional, será levado para o poder pelos votos da pequena-burguesia
assustada com a crise económica, mas ainda mais pela revolução proletária que
inevitavelmente se avizinhará – Luís Bonaparte foi em França o candidato dos camponeses arruinados, o Salvador-da-Pátria português será o candidato da classe média empobrecida e proletarizada.
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