segunda-feira, 20 de março de 2023

A crise económica mobiliza a tropa - Viva a caserna!

 

A crise económica a nível interna e mundial vai-se agravando, poderemos dizer, sem grande margem de erro, o capitalismo agoniza. A seguir à falência de três bancos norte-americanos mais duzentos estarão em lista de espera na terra do Tio Sam, se fizermos fé na notícia avançada pela imprensa mainstream. A crise financeira, apenas um dos aspectos da crise global, irá arrastar toda a União Europeia – causa e efeito da guerra na Ucrânia.

Como consequência, a política vai-se crispando, em França, o governo Macron governa por decreto, aprovando a subida da idade de reforma a arrepio do Parlamento, e, em Portugal, vão surgindo os candidatos a candidato a Bonaparte. Um almirante de água doce, a pretexto de conter uma pretensa rebelião da marinhagem, inicia a sua campanha à presidência da República, rodeado de toda a imprensa doméstica que desde há algum tempo o tem trazido ao colo, perante a estupefacção de alguma opinião pública e do silêncio de um governo cada vez mais acossado.

Os assuntos do dia, ultimamente, têm sido a “revolta” dos marinheiros com a promoção do “almirante sem medo” e o mandado de captura de Putin pelo TPI (Tribunal Penal Internacional). O primeiro desilustra a democracia parlamentar burguesa que vigora entre nós com o endeusamento de um oficial da tropa que traga ordem ao país, acabe com o regabofe das greves, e resolva problemas que a classe política venal descuida, como seja um pequeno navio da armada comprado em segunda mão e que já deveria ter sido desmantelado atendendo há idade. O segundo descredibiliza ainda mais um órgão já irrelevante, a ONU, fazendo lembrar a antiga Sociedade das Nações.

O incidente será pretexto para o governo passar a partir de agora a investir a sério no armamento, numa política belicista de agrado de Bruxelas e da Nato, e o “raspanete” dado pelo almirante perante as câmaras de televisão tem como fim deixar o aviso de que insubordinações não são de tolerar, não vá o diabo tecê-las e a soldadesca, juntamente com o povo indignado, possa um dia destes revoltar-se contra os oficiais, contra os políticos corruptos e ser ela a colocar na ordem toda uma elite, esta sim, a verdadeira responsável pelo descalabro da nação!

Alguma classe média gosta de fardas, terá muito provavelmente sonhos eróticos, gosta da ordem e da disciplina, o que, diga-se de passagem, também não desagrada à elite indígena que nunca viu com bons olhos este excesso de liberdade e de direitos do reviralho depois do 25 de Abril. E com a crise económica já instalada desde há quinze anos, crise que se tem mantido em banho-maria durante este tempo pelos governos do PS & Costa, e ameaçando com nova tempestade, todos os cuidados serão poucos e um militar viria mesmo a calhar.

Por sinal, o militar que agora se coloca em bicos de pés até é alto, fala grosso, mas, ao que parece, a coragem não será a sua melhor qualidade. Depois de arengar à tropa e ameaçar com penas e degredos os (in)subordinados revoltosos ter-se-á apercebido, ou alguém lhe terá dito, que se tinha excedido, o que lhe poderá estragar a imagem pública, veio então retratar-se negando que tivesse dado algum raspanete aos marinheiros. Aliás, este tipo de comportamento está na personalidade dos candidatos a Bonaparte, por exemplo, Luís Bonaparte, era um vadio e um chulo, conseguiu o poder com o ajuda de uma organização de marginais e lúmpenes, a sociedade 1º de Dezembro, e o preço foram uns quartilhos de aguardente.

Os comentadores e paineleiros do regime logo reagiram: uns alertaram para as possíveis revoltas que poderão aí vir por força da crise; outros indignaram-se com a falta de jeito do tropa que, se quer ser candidato a algum cargo político, deve primeiro despir a farda; ainda outros acham exagero o empolamento da insubordinação; em suma, todos se preocupam com a solidez e esperança de vida do regime que para o ano faz meio século de existência. E, coisa que não dizem mas percebe-se bem, preocupam-se mais com o tacho e mordomias pessoais que este regime lhes ofereceu.

A imagem dada pelo navio, com uma das duas máquinas avariada, a outra a perder óleo, e o casco a meter água, é mais a imagem do país e do regime político do que propriamente da armada portuguesa. E a situação terá sido empolada porque, ignomínia das ignomínias!, os marinheiros recusaram-se a vigiar um navio russo que passava ao largo e em águas internacionais, mas que, nas palavras do “nosso” almirante de alcaixa, andaria a vasculhar os cabos submarinos. E grave porque qual seria, no seu limitado e casernático entendimento, a opinião dos “aliados” (Nato) de Portugal?

Assim se vê que as ideias de militares profissionais não se diferenciam muito das dos nossos políticos: primeiro está a subserviência ao estrangeiro (Bruxelas e Nato); depois, no seio do povo português deve prevalecer a repressão, a arbitrariedade, obedece quem deve e manda quem pode, e com a crise económica em mais uma outra vaga, desta feita mais tormentosa, os portugueses devem baixar a cerviz e aceitar as privações derivadas de mais aumentos dos preços na alimentação, na habitação, nos combustíveis, em tudo o que é essencial à sobrevivência; ao mesmo tempo, bancos, gasolineiras e hipermercados acumulam lucros declaradamente pornográficos.

Se é notícia que «A crise financeira vem asfixiando a classe média: quase metade das famílias portuguesas têm dificuldade em pagar a casa e a alimentação» ou o «Número de despedimentos coletivos cresce quase 56% em Janeiro», não deixa de ser grotesco ouvir «A presidente executiva (CEO) da Sonae, Cláudia Azevedo, avisou hoje que, num "mercado aberto e mundial" como o alimentar, a fixação de preços máximos "dá sempre mau resultado" e resultaria em "prateleiras vazias" nos supermercados». Perante a arrogância e ameaça de fome para o povo, e se o governo fosse de esquerda, há muito que os preços teriam sido tabelados, e agora o grupo Sonae seria nacionalizado e a oligarca enviada à justiça.

Ao contrário do que afirmam os (ditos) responsáveis políticos e financeiros nacionais bem como os de Bruxelas (Eurogrupo), a crise financeira que se reiniciou nos EUA e que estalou na Europa com o Credit Suisse irá alastrar-se como fogo em palha seca por todo o continente europeu. Não se entende que haja gente que negue a possibilidade de contaminação de Portugal, que é um país periférico, de economia aberta, sem soberania monetária ou económica em áreas essenciais como a alimentação, com mais de metade da banca nas mãos do capital espanhol e europeu, como pode ficar imune à calamidade? Costa parece querer repetir a triste figura de Cavaco Silva antes do BES estoirar.

Se o governo possui maioria absoluta, pode e deve governar até o fim do mandato e irá fazê-lo; contudo, não é por este facto que sente acossado e não consegue esconder o nervosismo, é pela possível revolta social. Para acelerar o nervosismo e eventualmente o fim precoce, Marcelo, sofrendo de incontinência verbal e de descontrole do impulso, vai “picando” o governo, agarra agora a aplicação dos dinheiros do PRR como arma de arremesso e na expectativa de virem a ser a tábua de salvação da economia nacional falida – em breve irá para o terreno controlar a aplicação do programa. Marcelo preocupa-se: «quer rapidez na suspensão de padres e na privatização da TAP», a sua alma de beato e de vendilhão do país ao estrangeiro sente-se atormentada.

Marcelo, como primeiro-ministro frustrado, defende que «novas formas de luta “têm de ser previstas na lei”» quanto à luta dos professores que ameaça fugir ao controlo da cordata CGTP. A obrigatoriedade de as pessoas ficarem em casa em situação de incêndio e o facto de a proposta do Governo que revoga leis covid estar parada há seis meses são a expressão dos tiques caceteiros do PS que, na primeira oportunidade, irá carregar violentamente contra a luta dos professores bem como todas as que teimem em perturbar a boa ordem burguesa, se falhar, então, virá o sr. almirante no seu navio a meter água e com a máquina a peidar-se pôr ordem na malta insubordinada.

Convém lembrar quem é que nomeou o almirante para o cargo de CEMA, eventualmente como recompensa da boa execução da campanha de vacinação – cujos  efeitos nefastos se encontram sob investigação das autoridades judiciais alemãs e com o governo alemão a disponibilizar-se em indemnizar as vítimas das injecções –, e que já o deveria ter demitido mal ocorreu o incidente do navio avariado. Costa manter-se-á no poder enquanto conseguir manter o povo na ordem, garantir a paz social, e fazer passar a política dimanada de Bruxelas, porque sabe que Marcelo não tem coragem de usar outra vez a “bomba atómica” da dissolução da Assembleia da República, e aqui os partidos da oposição têm mais medo de outras eleições antecipadas do que o diabo da cruz.

Neste país cheio de políticos e de tropas cheios de coragem e ardor combativo, prontos para a guerra, ficamos admirados que o “comandante supremo” das forças armadas tenha livrado à tropa graças a cunha do papá, porque possivelmente teria medo da disciplina militar e de ir combater para o África, à semelhança do que aconteceu com quase todos os homens da sua idade, e ficamos de boca aberta quando o ministro dos negócios estrangeiros, que terá conseguido o cargo também por cunha do paizinho, venha como mata-mouros tenebroso ameaçar que caso o presidente russo venha a Portugal (fazer o quê?) será imediatamente detido – o homem um dias destes ganhará algum prémio pelas asneiras que diz, o anúncio extemporâneo e indevido do presidente Lula vir discursar na Assembleia da República no 25 de Abril  ficará para a história do anedotário da II República. Terá tanto de altura como de incompetência e de burrice, é o mínimo que se poderá dizer.

O bonapartismo será sempre o regime político de ditadura do grande capital sem grandes arrebiques democráticos, um regime abertamente autoritário, seja o protagonista civil ou militar, defenderá acima de tudo os interesses do grande capital financeiro mais do que os interesses da burguesia nacional, será levado para o poder pelos votos da pequena-burguesia assustada com a crise económica, mas ainda mais pela revolução proletária que inevitavelmente se avizinhará – Luís Bonaparte foi em França  o candidato dos camponeses arruinados, o Salvador-da-Pátria português será o candidato da classe média empobrecida e proletarizada.

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