sábado, 30 de abril de 2022

1º de Maio em tempos de guerra

 

Todos querem a guerra, e todos são, entre nós, portugueses, os que alinham abertamente pela União Europeia, pela Nato/EUA, pela defesa das “putativas” democracia e liberdade que, na prática, são só para alguns e apenas em ocasiões que se coadunam com os interesses desta Europa Ocidental decadente e em rota apressada para o suicídio.

O Partido da Guerra

Quem ousa falar em paz e criticar o constante apelo ao armamento, justificado pelo apoio ao actual governo neo-nazi ucraniano, que foi colocado no poder graças ao golpe de estado de Maidan/2014 e financiado pelo Tio Sam com 5 mil milhões de dólares, recebe de imediato o estigma de se ser “agente da Rússia” ou “amigo de Putin”; à semelhança do que aconteceu quando o governo bolchevique assinou a tratado de Brest-Litovsk que trouxe a paz à martirizada Rússia, na I Guerra Mundial, tendo o partido Bolchevique e Lenine recebido o ferrete de “agentes da Alemanha”.

Nesta Europa, em profunda crise económica, social e moral, caminha-se, como sonâmbulos, para a III Guerra Mundial. A culpa, no final, será sempre da Rússia. E é neste mundo à beira da catástrofe que os proletários de todo o mundo comemoram o seu Dia de Luta do 1º de Maio. É de luta que se trata, de guerra, e não de festa.

Nesta orla marítima, debruçada sobre o Atlântico e fascinada pelas maravilhas (e dólares) dimanadas do outro lado do oceano, faz-se aberta e descaradamente a apologia da guerra: são os órgãos de propaganda mainstream que durante 24 horas por dia e sete dias por semana, tal como acontecera com a pandemia covídica e para continuar a disseminação do medo sobre os cidadãos  mais crédulos, que demonizam o “inimigo” russo, com o alastramento da xenofobia contra tudo o que cheira ao infiel; são as fracas consciência que engolem como verdades absolutas e sem direito a contraditória toda a propaganda recebida principalmente pelas televisões (60% dos portugueses não leram um livro no último ano, contra 90% que absorvem diariamente televisão); são os partidos políticos com assento parlamentar que louvam os neo-nazistas, instalados no poder ucraniano, como defensores da democracia e da liberdade. A normalização do fascismo e do nazismo ocorre tanto na imprensa como no Parlamento.

Entre todos os defensores da guerra, constituindo um verdadeiro partido, e merecendo uma referência à parte como o chefe do partido da guerra é o dito “chefe supremo” das Forças Armadas nacionais, que não se cansa de reivindicar mais dinheiro para uma dita” Defesa” do país. Chega a acusar o actual regime orçamental de “troika” serôdia, esquecendo-se de referir o mesmo para sectores mais importantes para vida e o bem-estar do povo português, como a saúde ou a Educação. O monárquico e beato Marcelo, não se lembrando que nem sequer cumpriu o serviço militar e nem mobilizado foi para a guerra do “Ultramar”, ao contrário do que aconteceu com os homens da sua geração, puxa agora pelo patriotismo.

Em tempo de fossilização do 25 de Abril e de comemoração do 1º de Maio pelos trabalhadores, o homenzinho, na sua pequenez de pouca seriedade intelectual e de fraca coragem política, surge agora como que “agarrem-me, que eu vou a eles!”; ele quer umas “Forças Armadas fortes unidas e motivadas, a nossa paz, a nossa segurança…”, mas a que “paz” e “segurança” se refere, às do povo português ou dele próprio e da classe social a que pertence e cujos interesses defende? Não sabemos, mas pelo passado histórico, ficamos desconfiados que será para a última hipótese.

Continuando numa de (fraco) patriotismo, el-rei Marcelo, que ultimamente tem andando por Espanhas em vassalagem, esclarece-nos sobre as “missões difíceis” que as Forças Armadas terão de cumprir, que tem sido até aqui o ir defender os interesses das grandes empresas europeias e americanas em países onde saqueiam os seus recursos naturais, desde África ao Extremo Oriente, ou outros interesses de natureza geo-estratégica. O alinhamento pelo imperialismo e pela guerra é que tem feito correr o PR.

A guerra é a continuação da política e da economia por outros meios

Por detrás da política encontra-se sempre a economia, e a economia capitalista no Ocidente não se encontra lá de muito boa saúde: “Economia dos EUA contraiu 1,4% no primeiro trimestre”; “Inflação na zona euro sobe para 7,5% em Abril”; “Inflação na Alemanha sobe para 7,4% em Abril, um máximo em 40 anos”; “A taxa de variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC) terá aumentado para 7,2% em Abril, face aos 5,3% de Março, o valor mais alto desde março de 1993”, contrariando o discurso do governo que até há pouco tempo entre nós não haveria problemas já que tínhamos a taxa mais baixa da UE; “As exportações portuguesas de bens aumentaram 18,7% e as importações subiram quase o dobro, 36,6%, nos primeiros três meses de 2022, face ao mesmo período do ano passado”; “Mais de dez anos depois da crise financeira, Portugal é dos poucos países onde os apoios à banca continuam a pesar nas contas públicas, impacto acumulado foi superior a 10% do PIB”.

No entanto, e apesar da crise: “Biden pede mais 31 mil milhões de euros para ajudar Kiev” porque... "Não estamos a atacar a Rússia", ora, se estivessem!; a Alemanha já anunciou mais 100 mil milhões para o armamento; todos os países da Nato, ou seja, sob tutela dos EUA, já prometerem que irão respeitar os 2% do PIB para mais armas; e Costa, para se mostrar bom aluno, já considerou que, haja fundos estruturais (e mesmo que não haja), a meta imposta será atingida dentro de dois anos; para já cerca de 5800 militares irão ser promovidos. A guerra está na ordem do dia e o Tio Sam precisa também de vender mais armas.

Quem paga a crise económica e a guerra? A resposta é fácil de encontrar, os trabalhadores. Diz o Costa que “a austeridade não é o nosso ADN nem será a nossa estratégia”, mas reconhece, através de porta-voz, que existe “risco de os portugueses perderem poder de compra”. Quanto à solução, já foi peremptório: “cairíamos na ilusão do aumento do rendimento (para os trabalhadores com os possíveis aumentos salariais), que rapidamente seria comido pela subida da inflação”; na prática, os trabalhadores que aguentem. É o “aguentam, aguentam!” de Passos Coelho revisitado.

O objectivo é sempre permitir a acumulação capitalista

Costa, intencional e conscientemente, confunde o cu com as calças, é que o salário é também o preço de uma mercadoria que é a força de trabalho, vendida pelos trabalhadores para poderem sobreviver; se o salário não acompanha a subida das outras mercadorias que são necessárias à sobrevivência do trabalhador, este também não terá condições nem possibilidade para continuar a trabalhar – contradição insolúvel para o capitalismo. Afirmar que o aumento salarial vai contribuir para a subida da inflação em geral, como muita boa gente ignorante acredita, é não só dizer uma rematada mentira como querer esconder a verdadeira razão da mentira, e a razão é somente garantir a subida dos lucros dos patrões – a contradição entre acumulação capitalista e mercado-poder-de-compra-trabalhadores é outra contradição insanável.

Assim se compreende a farronca de Costa que, perante um cenário de inflação mais que certo e garantido, diz "o Governo agiu de forma rápida e identificou respostas para fazer face a esta crise". Ora, as “repostas” foi dar uma esmola de 60 euros às famílias mais carenciadas, que são mais que muitas, e um bolo às petrolíferas e gasolineiras com a descida do Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP) que, sendo verdade, permitirá baixar a carga fiscal em 20 cêntimos por litro, mas, por outro lado, deixa campo aberto para que os patrões do sector enfiem nos bolsos parte desse desconto, isto é, aumentem os lucros. Aliás, tem sido esta a estratégia, até agora bem sucedida, de subsidiar com os impostos dos próprios trabalhadores algum pequeno aumento do seu rendimento enquanto faz multiplicar os rendimentos do capital.

Nesta luta de classes tem sido sempre a burguesia a ganhar e os trabalhadores a perder, geralmente são os partidos auto-denominados “socialistas” ou “sociais-democratas” que melhor têm cumprido esta tarefa de levar os trabalhadores a aceitar pacificamente a sua própria exploração; em Portugal, o revisionista PCP tem ajudado à festa, talvez para ser aceite no regime e não correr o risco da ilegalização, coisa que agora nunca esteve tão perto de poder vir a acontecer, sendo visível a dificuldade de manter a sua posição sobre a guerra, resvalando cada vez mais para o oportunista “nini”, nem uns nem outros.

A guerra está sempre presente

É o oportunismo político, comprovado na História e por mais do que uma vez, que leva partidos e dirigentes a acabar por defenderem a guerra imperialista e considerarem, no caso do PCP, que o socialismo ou o comunismo – a sociedade sem exploração e sem classes – podem ser alcançados pela via parlamentar, ou seja, pela via pacífica sem a necessidade de tomar o poder político à burguesia, como ela fez à nobreza, e desmontar o estado que mais não é que uma máquina de classe de repressão da elite possidente contra os escravos assalariados.

Estas ilusões de se querer defender a burguesia indígena na sua guerra “patriótica” ou da não necessidade de os trabalhadores tomarem o poder político à classe que os explora têm sido pagas com custos elevados e dolorosos. Desde o 25 de Abril, quando exigiram uma revolução e não um simples golpe de estado para não deixar tudo na mesma, mudando simplesmente os figurões ou as moscas, que os trabalhadores têm recuado sempre, perdendo a luta de classes, chegando agora a uma situação aparentemente sem saída. Para romper este impasse, os proletários de vanguarda têm que tomar nas suas próprias mãos as suas reivindicações de classe e comemorar o 1º de Maio como uma Dia de Luta, num espírito internacionalista, com a agravante de que a guerra imperialista está aí.

A reivindicação de aumento salarial geral para todos os trabalhadores, assim como a semana das 35 horas sem diminuição de salário, é a forma de repor no imediato o poder de compra de quem trabalha e num índice nunca inferior à taxa de inflação – são as reivindicações mais imediatas e susceptíveis de unir todas as camadas do povo que trabalha. Deixar essas reivindicações para a demagogia dos partidos de direita e de extrema-direita poderá ser fatal porque conduzirá à vinda de um putativo “salvador da Pátria”, como já aconteceu no passado.

A luta pela PAZ será o objectivo que unirá os trabalhadores a nível da Europa e do Mundo, em verdadeiro espírito internacionalista de fraternidade e de solidariedade. Os trabalhadores de todos os países devem dizer não à guerra mundial capitalista – a União Europeia e o capitalismo são sempre a guerra – e, caso esta aconteça, como tudo indica, devem não a temer e transformá-la em guerra civil revolucionário pela tomada do poder político, no sentido de uma sociedade onde todos sejam iguais e solidários. A situação que, nestes tempos bárbaros e de incertezas, se vive é de guerra declarada, porque também sempre foi de guerra a situação para onde a burguesia lançou os trabalhadores. A História da Humanidade foi sempre a história de luta de classes.

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