O OE-2025 está neste momento a ser discutido e
sabemos que a aprovação é mais que certa, com a abstenção do PS ou com o voto
favorável do partido da extrema-direita, que é visto pela imprensa mainstream
como algo sistémico e necessário para a governação. A recente sondagem aponta: “Pedro
Nuno Santos tem ‘companhia’ como líder da oposição”, é o apagamento do PS que
se tem posto sempre a jeito. A privatização do SNS avança a todo o vapor, a
degradação do INEM, cujas falhas terão provocado mais de uma dezena de mortes,
as longas listas de espera para cirurgias que o governo AD entendeu entregar
aos cuidados dos privados, duplicando assim a despesa com a saúde. O patronato
nacional, na velha tradição esclavagista, conta com a descida do IRC, a
alteração à legislação laboral, a fim de tornar o trabalho mais precário e mais
barato, e a limitação do direito à greve. A preparação da opinião pública para apoiar
o possível candidato à presidência da República, o almirante da água choca e
das picas salvíficas, por partidos de direita e comentadores pagos à peça, vai
em alta, ao mesmo tempo que se tenta dividir o campo eleitoral de esquerda, ou
pelo menos considerado como tal, com o idiota útil da “abstenção violenta” aos
governos do PSD. O circo, para entediar os papalvos, está montado, enquanto se
preparam medidas austeritárias relevantes perante a grave crise económica que
se avizinha, com ou sem guerra na Europa.
O Orçamento aprovado antes de o ser
Ainda antes da discussão na especialidade do
OE-2025 já este estava aprovado. Nestes dias trata-se somente de acertar alguns
pontos no sentido de garantir o bolo para os diferentes lóbis que apostaram
neste governo e conceder algumas parcas migalhas para os trabalhadores e
sectores mais desprotegidos da sociedade, exemplo pensionistas. E aqui assiste-se
ao espectáculo deprimente de disputa entre os diversos partidos sobre quem é
responsável pela maior migalha.
Os bancos, o grande capital financeiro, já vieram
dizer que não se brinca com coisas sérias. O CEO do banco espanhol BPI logo arrasou
a proposta aventada no Parlamento do o fim da comissão de amortização do
crédito da casa, seguido do CEO do banco chinês-angolano BCP que considera “absolutamente
irracional” a ideia. Mais recentemente Centeno, o representante do BCE (Banco Central
Europeu) em Portugal e que não responde perante o governo português, veio
corroborar a posição da banca dizendo: "se queremos flexibilidade temos de
estar disponíveis para pagar o preço dessa flexibilidade". Como retaliação
perante a proposta do PS, a banca ameaçara com o fim da taxa fixa.
Bruxelas, pela voz do vice-presidente da
Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, já deixou alguns alertas, que são para
cumprir à risca. Acabar com os apoios gerais à energia fóssil e manter as taxas
carbono, a transição energética é o meio para revivificar o capitalismo à custa
do sacrifício do contribuinte; implementação de medidas para “aumentar a
sustentabilidade do sistema nacional de pensões”, isto é, pensões mais
miseráveis para posterior privatização dos dinheiros da Segurança Social;
contenção nos aumentos salariais para os trabalhadores da Função Pública, os
salários no país terão de ser miseráveis, com excepção dos ordenados dos políticos,
cujos cortes a pretexto da pandemia serão revogados a partir de 2025, com o
apoio do PS. Serão melhores formas de “gastar o dinheiro dos contribuintes”, na
douta e ladroeira opinião do vice-presidente que não foi eleito por ninguém.
Não só governo AD se denuncia como dócil e
fiel agente dos interesses do grande capital financeiro, como também o sujeito
que ainda se mantém no Palácio de Belém. Mais uma vez Mário Draghi, homem de
mão do Goldman Sachs e ex-presidente do BCE, é convidado para estar presente no
Conselho de Estado, a realizar em Janeiro, “para falar do seu relatório e da
sua visão da Europa e do mundo”, onde preconiza que a União Europeia Europa
“tem de reformar os seus sistemas políticos, económicos, sociais, nacionais
obsoletos ou de moroso ajustamento”. Traduzindo por miúdos, o grande capital financeiro
vai assumir directamente a governação da União e sujeitar os povos europeus à
mais desenfreada exploração… a bem da salvação do capitalismo.
Tirar aos pobres para dar aos ricos
O OE-2025 consubstancia todo um programa de verdadeira
austeridade sobre o povo trabalhador que é esbulhado, quer pelos baixos
salários e pensões de reforma, quer pelos elevados impostos, quer pela diminuição
de investimentos público na saúde, educação, protecção social ou em infra-estruturas
necessárias ao bem-estar e vida digna da sociedade considerada no seu todo. Para
aumentar o seu quinhão a nossa burguesia parasitária e subsídio-dependente
reivindica menos impostos, ainda ninguém provou que baixar o IRC irá aumentar os
salários, descer o desemprego e baixar os preços dos produtos. Pelo contrário, o
desejo molhado desta gente é não pagar salários sequer e sacarem o mais
possível do erário público. No entanto, o endividamento da economia (excepto
bancos) sobe 2,4 mil milhões no mês de Setembro, tendo atingido os 813,2 mil
milhões de euros.
O governo da AD vai concretizar o plano com
que foi eleito. Pelos vistos, irá começar pela alteração dos regimes de doença,
mobilidade, férias e greve dos trabalhadores do estado, querendo dar falsamente
a noção de que estas alterações não serão de "grande monta", com o
objectivo de enganar os sindicatos, alguns deles até parece que gostam, e adormecer
os trabalhadores no sentido do que tudo será feito em seu benefício. Os sindicatos
da UGT já deram o avale e os outros pediram tempo para “estudar” a proposta. Do
outro lado, os patrões apresentam como prioridade a revisão da lei laboral, já
que sentem o ramo mole, como também seria de esperar. É bom relembrar que os
governos do PS durante os oitos que estiveram em função nunca reverteram as alterações
feitas à Lei do Trabalho, bem pelo contrário. E o que é feito no sector estado
é para replicar com lente de aumento no privado.
O direito que tanto o governo como os patrões
pretendem limitar e, se possível, acabar com ele de vez, é o direito à greve. A
campanha mediática contra este direito que foi reconhecido depois do 25 de
Abril, apesar de algumas limitações, greve por solidariedade ou de carácter
abertamente político, tem sido desbragada. A greve dos técnicos de
emergência pré-hospitalar às horas extraordinárias não foi intencionalmente
evitada pelo governo, na medida em que este tinha conhecimento com muito
antecedência do que iria acontecer, porque a sua intenção era atacar estes
trabalhadores e descredibilizar este meio de luta. Os principais media mainstream
lançaram-se na primeira linha, atribuindo de imediato os casos mortais não
assistidos à irresponsabilidade destes trabalhadores.
A par da greve do INEM, os professores e
outros trabalhadores escolares não docentes foram de igual modo estigmatizados
como responsáveis pelos problemas da falta de aulas e de continuarem de má-fé uma
luta, já que os problemas, pelos menos os dos professores, já teriam sido
resolvidos pelo governo – «“As nossas crianças merecem ter voz." Mais de
100 pais questionam ministro sobre greves. Carta aberta a Fernando Alexandre e
Carlos Moedas alerta para perda de mais de uma semana de aulas com as sete
greves que paralisaram escolas já neste ano letivo. Pais querem esclarecimentos
sobre situação de professores e pessoal não-docente.» (ECO, 20.11.2024). Todos
os paineleiros do establishment botaram faladura sobre o tema e o ponto comum
é: as greves prejudicam o “país” e o povo (a classe média medrosa) está contra
elas.
O primeiro-ministro acaba de falar ao país, em horário nobre das 20 horas, para informar os inseguros cidadãos de que está a decorrer uma operação policial, “Portugal sempre seguro” mobilizando mais de quatro mil efetivos, e que “Portugal é um país seguro” e “um dos mais seguros do mundo”; de seguida, prometeu um investimento de 20 milhões de euros na aquisição de 600 veículos para a PSP e GNR. Fez-se acompanhar de duas ministras, MAI e MJustiça, e dos comandantes das forças policiais, para mostrar que a segurança dos portugueses está em primeiro lugar, quando se sabe, por sondagem recente, que os portugueses sentem-se seguros e que são precisamente os eleitores da extrema-direita que menos confiam nas polícias. Esta encenação ocorre precisamente no dia em que a PJ procedeu à detenção de presumíveis responsáveis pelos tumultos que se seguiram ao assassinato de Odair Moniz. Ora, a sensação com que se fica é que quem não se sente seguro e está com medo é exactamente o governo. Este caminho por onde enveredou o governo é de inteiro agrado do partido da extrema-direita, que agradece, e nem precisará de lá entrar para ver a sua agenda concretizada.
A caserna ao poder
Não deixou de ser ternurento ouvir ao PR
Marcelo, que pensa que é Rei, quanto à defesa da urgência da Aliança das
Civilizações (10º fórum global da United Nations Alliance of Civilizations - UNAOC)
num mundo "dominado pelo egoísmo"; mais precisamente "esta
urgência é especialmente relevante num mundo que, mais uma vez, se encontra
dominado pelo egoísmo, pela arrogância, pela intolerância, pelo
isolacionismo". Uma conferência onde estiveram sentados lado a lado o
ministro dos Negócios Estrangeiros, o inefável Rangel, com a criminosa de guerra,
sionista e antiga ministra dos Negócios Estrangeiros israelita, Tzipi Livni. Para
se dizer que “diz-me com quem andas e digo-te quem és!”. Sabendo-se da natureza
dúplice e traiçoeira do actual PR, é perfeitamente compreensível que as elites
procurem figura mais confiável e corajosa para defender o cacete em caso de grave
crise económica que será sempre crise social, daí se ter intensificado desde há
algum tempo a campanha da candidatura do almirante das vacinas e dos barcos
avariados.
Não será preciso saber contar pelos dedos para
se somar a insegurança e o desejo de reforço do aparelho policial por parte do
governo para se chegar à necessidade de se catapultar para Belém um homem das
casernas ou dos submarinos, não haverá diferença, para o mais elevado cargo da
República. Nem será preciso relembrar a abjecta atitude de humilhação pública da
tripulação que se recusou ir para o mar em barco velho e avariado para ir
perseguir os russos. Ou ouvir as atoardas de que os portugueses devem estar
dispostos a dar a vida pela defesa desta Europa que, até agora, só trouxe
pobreza e mais exploração ao povo português, e, mais uma vez, contra o perigo
da invasão das tropas russas que qualquer dia entrarão por aí e só irão parar
na ribeira de Cheleiros. Uma figura, que só profere atoardas belicistas e
reaccionárias, que ainda não manifestou o mínimo esboço de ideia sobre a
identificação e subsequente resolução dos problemas que mais afectam o povo
português, será a mais indicada para chefiar um regime que de democrático só
acabará por ter o nome.
Ao acontecer, estaremos perante o fim desta
democracia de opereta e o início de uma democracia musculada, um fascismo
brando, talvez neste momento a solução mais adequada para a superação da crise
do capitalismo nacional por parte das elites. Parte significativa da classe média
irá alienar de boa vontade o voto, e possivelmente até uma fatia da classe dos
trabalhadores já fartos destes políticos venais e hipócritas. E a tarefa poderá
ser, mais uma vez, facilitada pelo PS que se apresentar, à semelhança das últimas
vezes, e parece que vai repetir-se, mais do que um candidato e do género daquele
que está a ser preparado, o Seguro da abjecta e cobarde “abstenção violenta” ao
governo de Passos Coelho que pôde governar à sua livre vontade. Com certeza que
a operação irá ter o maior sucesso. Nem o meia-leca (1,62 m de altura, segundo
Wikipedia) do moço de recados de Marcelo, ou “bruxo de Guimarães”, terá
hipótese, mesmo que fortemente apoiado pelo partido e pelo actual PR.
O circo está montado. O OE já está aprovado; o
PSD irá tentar novas eleições para ter maioria absoluta e poder fazer o que lhe
apetecer; a caserna irá para Belém; este ano comemorou-se o 25 de Novembro, como
negação do 25 de Abril e da derrota da revolução proletária, para o ano será o
26 de Maio; os trabalhadores irão ficar sem direitos e terão de ser escravos
tout court, caso não lutem contra o tenebroso plano. Os tempos são de cólera.
Imagem: "Chapéus há muitos" in Henricartoon
Nenhum comentário:
Postar um comentário